Por Dr. Rev. Wilson do Amaral
O Evangelho de Marcos (Mc 4.35-41) narra, com muitos detalhes, certa travessia de Jesus e seus discípulos do lago de Tiberíades (também conhecido por mar da Galileia). O grupo, além de contar com vários pescadores profissionais entre seus membros, atravessou aquele lago várias vezes durante o ministério de Cristo. Portanto, o ambiente lhes era familiar. Estavam acostumados a navegar.
Entretanto, essa foi uma travessia especial, somente comparável à ocasião em que Jesus surgiu andando sobre as águas e assustou a todos (Mc 6.45-52). Desta vez, ele estava no barco com eles e, muito cansado, entregou-se a um sono reparador, aproveitando-se da maciez do assento acolchoado na popa do barco e do embalo doce das águas. Já era tarde quando o barco em que estava Jesus e outros barcos saíram para essa travessia. Marcos registra a ocorrência de um grande temporal de vento naquela noite, com altas ondas que se arremessavam contra o barco e o enchiam de água.
Enquanto os companheiros do barco estavam em pânico Jesus dormia. Enquanto lutavam com seus medos, tentando se livrar da água dentro do barco e fazendo manobras para evitar que ele emborcasse, Jesus dormia. A situação era desesperadora e Jesus dormia! O pânico levou-os a acordar Jesus e, em tom de censura, perguntar-lhe se suas vidas não eram importantes para ele. Uma vez despertado, a resposta de Cristo ficou para mais tarde. Ele imediatamente repreendeu o vento e disse ao mar para se acalmar, emudecer. O vento e o mar obedeceram imediatamente à palavra do Senhor e fez-se grande bonança!
A seguir, Jesus se dirigiu aos boquiabertos discípulos e disse-lhes que eram tímidos (covardes) e não tinham fé, ou seja, já estavam acompanhando Jesus havia tempo e ainda não tinham aprendido a confiar nele para enfrentar provas e tribulações, mesmo diante dos sinais e milagres que ele já havia feito em sua presença. Ainda atônitos e cheios de temor, os discípulos se perguntavam: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? “ Esse lado de Jesus lhes era completamente desconhecido. Não imaginavam que ele podia controlar a natureza!
Enquanto líamos os parágrafos acima, talvez tenhamos imaginado estarmos naquele barco e percebermos o pânico e o esforço inútil dos discípulos, em contraste com a aparente falta de solidariedade de Jesus, porquanto dormia tranquilamente. Nem mesmo os borrifos das ondas eram suficientes para acordá-lo! Há vezes em que o vento e as ondas das tormentas da vida nos causam pânico e, por não conhecermos a Jesus convenientemente e crermos nele incondicionalmente, imaginamos que ele dorme enquanto sofremos e estamos desesperados. Consideramos-nos completamente desamparados. Então vem a pergunta: Vale a pena crer e confiar nele?
Afinal, quem é Jesus? Ele é o Filho do Deus vivo. Ele fez e faz o que não podíamos jamais fazer. Por seu sacrifício na cruz ele tem o poder de perdoar pecadores de seus pecados. Também por sua ordem o vento e o mar se aquietam. Há poder em Cristo para aplicar a justiça de Deus sobre nós. Há poder nele para cuidar que não afundemos nas provas que enfrentamos. No caso daquela noite, a intervenção de Jesus foi no momento mais adequado, além de usar competências que nós não possuímos. Ele está acima de nós. Ele sempre nos surpreende com seu poder.
Com toda a autoridade de Filho de Deus, Jesus censurou seus discípulos pela timidez (covardia) e pela ausência de fé. Diante da tempestade e tendo Jesus Cristo no barco, competia a eles crer na misericórdia de Deus Pai e no livramento que o Senhor lhes propiciaria. Estavam tão preocupados em sobreviver que fugiram do Deus Todo-poderoso, entregando suas almas e mentes ao deus pânico.
Este episódio deve nos agitar. Devemos nos perguntar que tipo de fé temos em Jesus Cristo: aquela quando tudo está bem, ou aquela em que alguma situação da vida é muito ruim. O ideal será termos uma fé vigorosa que não se altere em qualquer situação, mas cresça a cada dia. Para tanto, precisamos recordar a cada dia que:
O Filho de Deus é Todo-poderoso e Senhor sobre todas as coisas nos céus e sobre a terra. Não há limites para ele, e tudo quanto faz, o faz em consonância com o Conselho da Trindade. É preciso crer com todas as forças nesta verdade bíblica!
O Filho de Deus nos entende, porque viveu nossa humanidade plenamente, porém sem pecado, e intercede por nós tão eficientemente que se adianta em relação ao que precisamos, para continuarmos sendo bons cristãos. Também é preciso crer com todas as forças nesta verdade bíblica!
O Filho de Deus sempre terá o direito de nos dizer que nossa fé é tímida (covarde) se entronizarmos no nosso coração o pânico, a preocupação com o dia de amanhã ou pensarmos que ele não está interessado em nós. A dúvida é pecado contra ele, nos diz Tiago 1.
Nós precisamos dele e podemos clamar por seu Santo Nome todos os dias, como prova de nossa dependência.
Nós não devemos nos assustar ou ficar pasmos com o que ele fizer em nós e por nós, na ordem das coisas ou no tempo.
Concluindo, pessoas que não conhecem a Jesus terão a mesma reação dos discípulos naquela noite. Os cristãos experientes também poderão se surpreender com as infinitas maneiras que o Senhor utiliza ao agir em suas vidas. Mas uma coisa é certa: não há dúvidas quanto a sabermos quem é ele. É Jesus, nosso Senhor!